Total de visualizações de página

Seguidores

sábado, 19 de abril de 2008

Spartacus

É o tal negócio: Spartacus teve para mim um impacto muito forte porque o vi com 11 anos de idade. E ficou no meu imaginário durante toda a adolescência e a juventude. E por que não dizer? Ainda hoje o aprecio com intensidade, embora sem aquela fascinação do pretérito (tenho-o em DVD). Se um jovem, hoje, vê Spartacus, e além do mais, baixado da internet, não pode ter o mesmo impacto, a mesma fascinação. E o cinema evoluiu muito. Spartacus (menino, chamava de Espártaco), para a época, tem lances inovadores, a câmera no chão, os planos médios extremamente compostos, as angulações insólitas, o sentido do espetáculo, a seqüência extraordinária da batalha, que remete, logo, à batalha do gelo de Alexandre Nevsky, que, sem dúvida, Kubrick copiou de Eisenstein. Como este blog é mais afetivo do que crítico, e o bloguista fez por bem ter despedido o crítico para deixar a emoção do cinéfilo aflorar, o fato é que Spartacus ajudou na minha educação sentimental, além de, evidentemente, na minha formação como amante do cinema. Proibido para menores de 14 anos, quase que não entrei, sendo barrado duas vezes até que, na terceira tentativa, consegui ultrapassar a forte barreira da portaria - naquele tempo um filme proibido tinha comissário de menores na porta e o cinema era multado se deixasse entrar alguém com idade inferior a estabelecida pela censura. A minha entrada em Spartacus foi uma glória. Também, posso dizer, que, naquele momento, o cinema entrava, definitivamente, para minha vida.


As Diabólicas

Em meados dos anos 50, um filme francês dirigido por Henri-Georges Clouzot, As diabólicas (Les diaboliques, 1955) causou um verdadeiro frenesi no público, chegando mesmo a se tornar um cult instantâneo. Muita gente, fascinada com o domínio do realizador em provocar fortes emoções, tinham-no como referência. Clouzot, célebre diretor (O salário do medo), ainda que à antiga (segundo os postulados da Nouvelle Vague) sabia construir os seus mistérios e dar ao público doses gratificantes de surpresas. Com o tempo, Les diaboliques foi sendo esquecido, empurrado para trás pelas novas ondas e pelas novas vagas. Mas quem o viu, como este bloguista de plantão permanente, não o esquece. A amante e a esposa de um diretor de escola tipicamente francesa o matam por vingança. Mas o cadáver desaparece e outros fatos estranhos acontecem. Com Vera Amado Clouzot (brasileira, filha do escritor e diplomata Gilberto Amado, que Clouzot a conheceu aqui no Brasil e se casou com ela, tornando-a atriz), Simone Signoret, Michel Serrault (que trabalhou em A gaiola das loucas), e Paul Meurisse. Suspense que envolve o espectador do princípio ao fim numa época em que não se usava efeitos especiais: tudo é clima, atmosfera, um bater de porta, um gemido da personagem, um olhar dissimulado. A cena da banheira, quando o cadáver se levanta, é impressionante. Vera Amado, ainda jovem, morreu do coração. Será que foi de susto?




sexta-feira, 18 de abril de 2008

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Cupido não tem bandeira

Apesar de não ser um dos mais destacados filmes do mestre Billy Wilder, tenho Cupido não tem bandeira (One, two, three, 1961) em alta conta. James Cagney é um executivo da Coca-Cola em Berlim Ocidental. De repente, seu chefe lhe telefona para lhe avisar que sua filha (a exuberante Pamela Tiffin) vai passar uma temporada, com ele. Cagney vive a dar esporros em seu funcionário Schlemmer (Hanns Lothar). Mas o dia-a-dia de sua rotina no escritório vem a ser abalado com a chegada de Tiffin, que, logo logo, se apaixona por um rapaz, Horst Buchholz, que passeia de bicicleta do outro lado do Muro de Berlim, na Oriental, comunista. A situação se complica com o rapto da bela Tiffin pelo rapaz do lado inimigo. No final, resolvidas as coisas, Cagney é promovido e transferido, e se encontra no aeroporto com toda a família reunida. Ele convida a todos para tomar uma latinha de Coca-Cola (uma novidade na época), que, num plano fixo, médio, vai sendo retirada, uma a uma, e dada a cada um dos seus familiares. De repente, sai um Crush e ele grita: SCHLEMMER! E sua imagem é congelada. Sátira devastadora, com um Wilder inspiradíssimo e um elenco em uníssono, Cagney à frente, é claro. Dou aqui, de mãos beijadas, para os leitores deste vibrante e esdrúxulo blog, dialético, ético e atlético, o trailer deste diamante em preto e branco e cinemascope que se chama One, two, three (o título, penso, é a contagem das latas quando são retiradas da máquina). A ver obrigatoriamente.


terça-feira, 15 de abril de 2008

Claudia Cardinale faz 70 anos

Hoje vou ao aniversário de Claudinha, La Cardinale, que faz 70 anos. Ontem, de tarde, recebi o belo convite, que traduzo aqui: "Querido André! Quero vê-lo, sem falta, no meu aniversário, amanhã, terça. Anexo a passagem de ida e volta". Já estou na Itália, em Roma, no hotel, preparando-me para estar com Claudia a noite toda, a beber vinho da safra mais pontual e comer o salmão mais selvagem e delicado. Para comemorar, eis, aqui, a belíssima Cardinale num momento de Otto e mezzo, do regista Federico Fellini. Sorry periferia!


domingo, 13 de abril de 2008

"Cinema Velho", de Lucas Faroca

A homenagem feita por um neto a um avô tem aqui sólida expressão. É que Lucas Froes (mais conhecido na roda da malandragem como Lucas Faroca) registrou em vídeo a grande contribuição de seu avô, Renato Froes, que foi talvez o maior desenhista de anúncios publicitários dos filmes em jornais de Salvador. Antigamente, e não assim em priscas eras, os filmes entravam em cartaz às segundas e sábado, principalmente em A Tarde, o maior jornal soteropolitano, em páginas cheias e inteiras, todos os cinéfilos que se prezavam os consultavam para saber as estréias da semana vindoura. Cinema Velho é a documentação do trabalho de Renato Froes e uma oportunidade de se conhecer o grande desenhista, que aplicava muito de sua cinefilia para tentar criar e sugerir, através dos anúncios, o que se podia, nos filmes, ter como emoção e encantamento.




A lógica do sem-sentido

Sobre ser um autor, David Barouh aplica no seu itinerário como criador a praxis de um cinéfilo apaixonado pelo pretérito. A sua nostalgia é a nostalgia da busca de um tempo perdido. Não tem, como realizador, a mínima pretensão, o menor arroubo, a não ser, neste caso, o arroubo romântico que demonstra, por meio de seus recuerdos, a paixão pelo cinema. Os registros barouhianos são, portanto, registros in progress no sentido de que testemunham um passado para poder, o autor, suportar o presente. A sua expressão videográfica é, também, nesse particular, um processo terapêutico muito particular. Palmas para ele!

Quem sou eu