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segunda-feira, 21 de abril de 2008

"Rastros de ódio", de John Ford

Para se ver uma obra-prima como Rastros de ódio (The seachers, 1956), de John Ford, principalmente o seu final, belíssimo, recomenda-se, por respeito a um monumento do cinema, comprar um genuflexório ( estrado para ajoelhar e orar, com apoio para os braços). Poucas vezes, na história do filme, a poesia se faz tão abrangente num momento cinematográfico. O Tio Ethan, liberta a sobrinha interpretada por Natalie Wood - e, diga-se de passagem, em outra cena antológica e memorável, aquela do "Let's home, Debbie!", vem entregá-la. Os familiares alegres, a câmara a os acompanhar, entram em casa, e, de dentro desta, numa meio penumba, avista John Wayne, solitário, que, da porta, dá meia volta e caminha sem destino. Cumprida a sina, a de recuperar dos índios a sobrinha raptada (mesmo que fosse preciso matá-la), este sulista desesperado, finda a guerra, finda a perseguição à parenta (um motivo para viver), não tem mais razão de existir e vaga sem destino, como no plano final de The seachers. A necessidade do genuflexório é uma conditio sina qua non para a visão deste filme com o respeito requerido. O que é que tem se assistir ajoelhado a um filme ao qual se tem o maior respeito? Os cristãos não se ajoelham para reverenciar o seu Deus? No meu caso em particular, peço ajuda às palavras do mestre Luis Buñuel: Sou ateu, graças a Deus!


Um comentário:

Jonga Olivieri disse...

Meu caro Professor Setaro, esta cena, se não me leva ao genoflexório (até tenho um aqui em casa que foi de minha tetravó materna, que serve como elemento decorativo), todavia e invariavelmente me leva ao extremo da emoção, às lágrimas.
Desde que o JN a editou no dia da morte de Marion Michael Morrison e após o "The End", colocou: "Jonh Wayne - 1907/1979" e eu não me contive, debulhando em lágrimas e pensando ao mesmo tempo porquê chorar tanto a morte de um "reaça" daqueles, eu soube que posições políticas não têm muito a ver com aquilo que vivemos e nos causaram emoções.
Há pouco tempo, a conversarmos sobre 'westerns', disse-lhe o quanto me admirava de como eles (os ‘Yankeees’) souberam transformar numa epopéia um dos momentos mais bárbaros da "civilização" ocidental-cristã. O extermínio em massa de indígenas, a dizimação de Bisões* ao longo das vastas pradarias. A ocupação acintosa do melhor que tinham "nuestros hermanos mejicanos", fez desse momento histórico uma vergonha. Mas, quem de nós não caiu no poderio de uma máquina de propaganda que repetiu mil vezes uma mentira e nós (pelo menos eu), na inocência de minha infância pueril, não somente a engoli, como gritava em coro na sala escura do "poeira" mais próximo: "Aííí, Mocinhôôô!!!".
E Marion Michael Morrison, popularmente conhecido como Jonh Wayne foi um dos símbolos do mito do faroeste, como referiamos cá, por terras tupiniquins.
Curiosamente, “Duke” ffez um único papel na sua vida. O dele próprio, mas, com sua voz anasalada e seu andar desajeitado, foi o símbolo do ‘cowboy’ errante. Como “oncle Ethan” neste magnífico “The seachers” de nosso (também) inesquecível Jonh Ford!

(*) Li um livro sobre a conquista do oeste que dizia que o fedor se estendia por quilômetros a fio na vasta pradaria, pois os brancos matavam o bisões ao milhares, e deles só aproveitavam aquilo que dava lucro...

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