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sábado, 12 de abril de 2008

"No caminho dos velhos cinemas", de David Barouh

No caminho dos velhos cinemas, de autoria de meu amigo David Barouh, cinéfilo de mão cheia, revela um itinerário de saudades e de paixão pelas salas exibidoras do pretérito em Salvador. Sem a pretensão de certos videomakers, que querem fazer da expressão videográfica um preenchimento ególatra, mas, e tão-somente, exercer o prazer de filmar e recordar, o vídeo que aqui se encontra revela o seu autor e suas lembranças reeditadas pelas imagens em movimento sem perder, nunca, um certo apreço pelo non sense, o amor pelos antigos anúncios publicados nos jornais, o recuerdo da Velha Bahia com suas ruas e seus becos.A visão de No caminho dos velhos cinemas submete o espectador a um encontro com o passado de uma cidade que hoje se encontra totalmente descaracterizada e violenta. No caminho dos velhos cinemas é rigorosamente proibido para não-cinéfilos e, também, para os pseudo-cinéfilos desta maldita contemporaneidade.


sexta-feira, 11 de abril de 2008

Dose dupla de John Cassavetes

John Cassavetes é um dos mais importantes realizadores do cinema americano. O nome mais festejado do Cinema Subterrâneo de Nova York, desde fins dos anos 50, quando um vento novo se espraiava pela cinematografia do mundo inteiro (Cinema Novo, Brasil, Free Cinema, Inglaterra, Nouvelle Vague, França...), Shadows (cujo trailer vai aqui) foi não apenas uma surpresa como uma revelação. Poder-se-ia dizer que John Cassavetes é o pai do cinema underground cujos tentáculos atingiram o cinema brasileiro na segunda metade da década de 60, ainda que as influências maiores do carro-chefe underground nacional tenham sido Orson Welles e Jean-Luc Godard em O bandido da luz vermelha (1968), de Rogério Sganzerla. Mas o exemplo de Cassavetes ficou no imaginário dos realizadores mais antenados. Realizou depois muitos outros filmes importantes, a exemplo de Faces, Os maridos, Assim falou o amor, entre muitos outros.
Lançado em 1959, Shadows aborda o racismo a partir de uma trama de amor sofrida. Lelia (Lelia Goldoni) é uma jovem mulata que após viver uma aventura com um rapaz branco, numa noite, tem de lidar com o fato de que o desprezo dele por ela é relativo à sua cor.
Certa ocasião, perguntado sobre a sua motivação de fazer filmes, disse: "Se eu puder, farei filmes com não-profissionais, com pessoas que se permitem sonhar com uma recompensa diferente do dinheiro, pessoas com um desejo frenético de participar de algo criativo sem saberem exatamente o quê. Fazer filmes é prazer em estado puro",
O cineasta baiano José Umberto, autor de Revoada, é um dos grandes admiradores de John Cassavetes.

O outro vídeo é de Faces (1968), outro ensaio de Cassavetes.



quinta-feira, 10 de abril de 2008

São Paulo S/A, de Luis Sérgio Person

Entre os cinco filmes mais importantes do cinema brasileiro, encontra-se São Paulo S/A, de Luís Sérgio Person, que, surgido em 1965, surpreendeu a todos pela maestria com que o realizador soube digerir a linguagem nova que estava a ser estabelecida (Resnais, Antonioni...). O Cinema Novo, que vinha mais empenhado na temática rural, recebe, estupefato, esta obra oriunda do circuito paulistano, que focaliza as dúvidas e incertezas de um homem (Walmor Chagas) perdido entre suas mulheres e seu trabalho num momento em que São Paulo se industrializava (a ação do filme transcorre em meados da década de 50). O que se pode ver em São Paulo S/A é um cinema maduro de um quase estreante, um cinema motivador pela maneira pela qual Person expõe as angústicas do personagem num procedimento cinematográfico envolvente. É muito mais a maneira de dizer do que o que é dito que importa neste filme admirável. Há momentos inesquecíveis e, entre eles, aquele no qual, dentro de um carro, todos cantam o Hino à Bandeira, sob um olhar de certa perplexidade de Walmor Chagas. Person teria morte prematura em desastre de carro ainda na segunda metade dos anos 70. Mas ainda nos deu uma obra de rigor como O caso dos Irmãos Neves (1967). O vídeo é da abertura de São Paulo S/A, que, por sinal, está disponível em DVD.



quarta-feira, 9 de abril de 2008

"La dolce vita"

O lançamento de A doce vida (La dolce vita, 1960), de Federico Fellini, foi um impacto no cenário internacional. O filme, um divisor de água na carreira do genial realizador, foi atacado pelos moralistas de plantão a ponto de Fellini, dois anos depois, realizar um curta, As tentações do Dr. Antônio (episódio de Boccaccio 70, que acompanha os de Visconti e DeSica - a versão em DVD tem um quarto, o de Monicelli, que fora cortado no lançamento), no qual satiriza os seus algozes na figura patética do personagem título, um moralista que se sente indignado com um cartaz publicitário da bela Anita Ekberg (que tem importante papel de La dolce vita), com seus seios fartos, num anúncio que diz: "Beba mais leite". O homem - interpretado por Peppino De Felippo - entra em pânico e em alucinação a se ver perseguido por Anitona, gigante, e ele, pequenino, a escorregar como um personagem de Swifft gulliveriano nos seios-trampolim da mulherona.
Na verdade, filme premonitório, La dolce vita é um conto moral sobre a decadência da civilização ocidental ainda em meados do seu decurso. A linguagem felliniana abandona os ritos sumários de sua estrutura narrativa anterior para fazer emergir, aqui, um filme-mosaico, um painel de seqüências sem uma progressão dramática definitiva.
Não vi La dolce vita quando de sua estréia, mas alguns anos depois. Na época, por menor de idade, não pude ter a visão dessa obra-prima. Lembro-me que comprei uma revista chamada Filmes Franceses na qual o filme era novelizado como as antigas fotonovelas. E lia, com a avidez peculiar à meninice de um quase cinéfilo, as notícias sobre o filme. Aluno de colégio de padres, ouvia, na prática da missa dominical, as homilias pregadas contra o filme. A igreja, naquela época, colocava, na porta de entrada, uma lista que continha os filmes condenados, prejudiciais, para adultos, para adultos com reservas, para todos. La dolce vita foi condenado.
Ainda hoje, quando vejo La dolce vita, sofro o impacto de sua beleza.




segunda-feira, 7 de abril de 2008

"Hatari!", de Howard Hawks (trailer)

Hatari!, de Howard Hawks, me persegue desde 1963, quando o vi pela primeira vez, adolescente, na inauguração do Bruni Flamengo. A partitura de Henri Mancini ficou no ouvido de todos, com uma música em versão brasileira ("a pata do elefantinho"). Hatari! é simplesmente uma maravilha, e, como disse François Truffaut, atendeu ao desejo de Hawks de caçar e de filmar. Rodado in loco, na África, é um filme hawksiano por excelência. Um grupo de caçadores de várias nacionalidades se encontra neste continente para caçar animais selvagens para os jardins zoológicos de seus países. Mas o fantástico em Hatari! é que Hawks pontua o filme com as esperas, sendo estas os momentos nos quais aproveita para observar o comportamento dos homens. Com John Wayne, Red Buttons, entre tantos, e a especial presença da italiana Elsa Martinelli, um mulherão, como se dizia antigamente. Considero Hatari! um caviar. Um dos grandes momentos do cinema.
Hawks, autor de filmes, tem um universo ficcional bem próprio repartido entre as suas comédias loucas e seus filmes aventureiros ou westerns. Em Onde começa o inferno (Rio Bravo, 1959), apesar de western, a chamada ação transcorre, na sua maior parte, dentro de uma delegacia. Em Hatari!, durante a espera das caçadas. Nestes momentos de calma é que emergem os personagens hawksianos. O final de Hatari! é extremamente demolidor. E este trailer, que se encontra aqui, no retângulo abaixo, é uma beleza de trailer.


domingo, 6 de abril de 2008

Peter Sellers ao som de Burt Bacharah

Três minutos de Peter Sellers em várias caracterizações. Imperdível.

"A vida privada de Sherlock Holmes" (by Miklos Rozsa)

Um compositor como Miklos Rozsa é um gênio, um talento excepcional, que, acredito, não haja mais, como se podia, outrora, encontrar. Assim como Ennio Morricone, um dos últimos dos moicanos. A sua partitura para A vida privada de Sherlock Holmes, de Billy Wilder, é o que se pode ouvir aqui.

O cinemascope como agente restritivo

Nos seus primeiros dez anos de existência, a lente anamórfica (o cinemascope) restringia o enquadramento a planos médios que situassem os personagens e um vasto cenário. É o que se pode observar nesta cena de Esta loura vale um milhão (Bells are ringing), de Vincente Minnelli, musical quase crepuscular realizado em 1960. Judy Holliday, atriz e comediante versátil e inteligente, que trabalha neste filme ao lado de Dean Martin, morreria anos depois de câncer. Daí porque seu nome não tenha se perpetuado. Mas o cinemascope, se usado de maneira revolucionária por George Cukor (Nasce uma estrela/A star is born, com Judy Garland e James Mason), em alguns filmes de Minnelli, pelo qual tenho imensa admiração, o cinemascope é um amuleto para a câmera ficar preguiçosa e evitar o corte no número musical. É o que acontece aqui, neste vídeo, no qual Judy Holliday, ainda que extraordinária, executa todo o numero em plano médio. Na tela grande do cinema, dá para vê-la bem, mas, na pequenez do DVD, ou do You Tube, é restritivo. Perde-se muito.


Julie Andrews em "My fair lady"

Quando Jack Warner comprou por um milhão de dolares os direitos de My fair lady para o cinema, ninguém podia imaginar que a escolhida para o papel de Elisa seria Audrey Hepburn já que Julie Andrews e Rex Harrison trabalharam nos palcos da Broadway por quase dez anos. Warner disse que Andrews não era conhecida do público na época e, por isso, preferiu investir numa atriz já famosa. Mas Julie Andrews alcançou a glória internacional logo depois com Mary Poppins e A noviça rebelde. O que vai aqui registrado é de um momento de My fair lady com Julie Andrews - o que significa dizer: documento raríssimo.


Homenagem a Charlton Heston

Muito se fala na escadaria de Odessa de Eisenstein. Mas, sem tirar o mérito deste, vale dizer que a seqüência dos carros puxados a cavalo em Ben Hur tem uma montagem genial, é grandiosa, assim como o filme, empolgante, magnífico. A crítica gosta de fazer vista grossa a um espetáculo como Ben Hur. Mas todos se emocionam, na verdade, quando o vêem. Grandioso. E, aqui, o trailer em homenagem a Charlton Heston, que se foi desta para melhor, ontem, sábado.


"Era uma vez na América", de Sergio Leone

Entre os grandes filmes dos anos 80, quando não mais me empolgava com o cinema, um em particular me deixou extasiado: Era uma vez na América (C'era una volta in America, 1984), de Sergio Leone, com partitura envolvente do maestro Ennio Morricone, cujas quatros horas cheias me fizeram julgar que o filme tinha, apenas, duas, tal a constituição brilhante de sua mise-en-scène. Último filme desse extraordinário regista que foi Sergio Leone, Era uma vez na América é, sem tirar nem por, uma autêntica obra-prima.


Victor e Victoria, de Blake Edwards

Victor e Victoria, de Blake Edwards, em 1982, há 26 anos, foi, talvez, a última grande comédia musical do cinema americano, com Julie Andrews, James Gardner e um esfuziante Robert Preston. Comediógrafo de primeira linha, Edwards se notabilizou com a série da Pantera cor-de-rosa, mas tem comédias inesquecíveis e antológicas, a exemplo de Um convidado bem trapalhão (The party, 1969), com Peter Sellers, Bonequinha de luxo (Breakfast at Tiffany's, 1962), com Audrey Hepburn e George Peppard, A corrida do século (The great race, 1965), entre muitas outras. Mas também sabe ser denso, intenso: Vício maldito (Days of wine and rose, 1962), sobre o alcoolismo, com Jack Lemmon, Lee Remick, e com experiências no suspense, como Escravas do medo (Experiment of terror), com Glenn Ford, e novamente, Lee Remick. Victor e Victoria encantou aqueles que já pensavam no fim do cinema americano. Mas Edwards (sua entrada para receber o Oscar de cadeira de rodas automática é triunfante) em Victor e Victoria ressuscita a comédia romântica e musical em toda a extensão de seu encanto. Mas que não se perca mais tempo.

"Persona", de Bergman (trailer)

Quem viu Persona, de Ingmar Bergman, em meados dos anos 60, sofreu um impacto. Um impacto estético, por assim dizer. O realizador sueco, que faz reflexão sobre a existência tendo como veículo o filme, investiga, aqui, o processo de identificação entre duas mulheres (que não pecam como quer o título brasileiro). Uma análise perfuratriz do universo feminino com duas atrizes excepcionais: Liv Ullman, então esposa do diretor, e Bibi Andersson, que já a tinha sido, pois, como se sabe, Bergman não deixava as belas suecas que trabalhavam em seus filmes sem apor, nelas, a sua marca de paixão.


Intriga internacional

A seqüência da perseguição em campo aberto de Intriga internacional (North by northwest, 1959) é antológica. Cary Grant, a esperar um contato, vê-se, de repente, numa estrada a ser perseguido por um teco-teco, e, para escapar, entra num trigal, com o objeto voador a borifar desinfetante tóxico. O primor de sua construção atesta a maestria de Hitchcock. Intriga internacional se encontra entre os meus favoritos do mestre inglês. É um filme de itinerário, de percurso, onde um homem de vida medíocre tem que passar por uma grande aventura para poder, finalmente, encontrar a vida verdadeira e o amor de Eve-Maria Saint. Obra-prima, sem dúvida, se é que um realizador possa ter mais de uma obra-prima. No caso de Hitchcock, creio que ele ultrapassa o próprio conceito de masterpiece. Ou, se quiser ser um pouquinho mais pedante, de chef d'ouvre.


Hitchcock por Martin Scorsese

Um ensaio hitchcockiano realizado por Martin Scorsese. Um comercial de vinho no qual o realizador de Taxi Driver demonstra o seu sentido do que é a linguagem de Hitchcock. O resultado, primoroso, vale a visão, e tem mais de 9 minutos de exposição linguística da expressão cinematográfica. Hitchcock em sua quintessência visto através de uma propaganda muito bem bolada. A ver, portanto, obrigatoriamente.


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